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HISTÓRIA

Jacinto do Prado Coelho (1920-1984)

Director da revista Colóquio/Letras : 1971 a 1984

Jacinto do Prado Coelho nasceu em Lisboa. Aqui frequentou a Faculdade de Letras, pela qual se licenciou em Filologia Românica em 1941 e onde ingressou como assistente em 1943. Doutorou-se em 1947 com a tese Introdução ao Estudo da Novela Camiliana (1946); com a dissertação Unidade e Diversidade em Fernando Pessoa (1949) concorreu ao lugar de Professor Extraordinário que ocupou entre 1951 e 1953, tornando-se neste ano Professor Catedrático de Literatura Portuguesa Moderna. Até ao fim da vida exerce docência na mesma Faculdade onde, nos anos 70, criou e orientou um seminário de Sociologia da Leitura.

Entre 1954 e 1965 presidiu ao Centro de Estudos Filológicos do Instituto de Alta Cultura e, a partir de 1972, à direcção da Academia das Ciências de Lisboa, instituição de que era sócio desde 1955 e que o nomeou responsável pela redacção do respectivo Dicionário. Membro da Sociedade Portuguesa de Escritores, era o seu presidente quando do forçado encerramento de 1965. Pertenceu à Academia Brasileira de Letras, à Real Academia Galega, à Hispanic Society, à Associação Internacional de Críticos Literários — de que foi vice-presidente, criando e dirigindo o respectivo Centro Português —, à Associação Internacional de Literatura Comparada e ao Pen Club.

Autor quer de obras preocupadas em fornecer ao leitor visões de conjunto sobre a problemática literária, tanto do ponto de vista da criação quanto do da recepção, quer de minuciosos estudos sobre autores portugueses, franceses, brasileiros e galegos — com relevo, entre os primeiros, para Camilo Castelo Branco e Fernando Pessoa, mas também Camões, Matias Aires, Garrett, Eça de Queirós, Cesário Verde, Teixeira de Pascoaes, tendo, a par da organização de diversas antologias, preparado e dirigido a edição moderna de alguns deles —, Jacinto do Prado Coelho foi ainda o director e grande impulsionador da publicação do Dicionário das Literaturas Portuguesa, Galega e Brasileira. Um relance sobre a sua obra revela-nos pois as suas facetas complementares de teórico, hermeneuta, divulgador e construtor de instrumentos de pesquisa, todas elas unidas sob um mesmo desígnio de rigorosa pedagogia intelectual.

Convidado a integrar em 1970, a par de Hernâni Cidade, a direcção literária de Colóquio — Revista de Artes e Letras, deixou uma marca inapagável na Colóquio/Letras, publicação que, no âmbito da Fundação Gulbenkian, sucedeu àquela e na qual figura até ao número 23 (1975) como director-adjunto e até ao número 79 (de 1984, ano em que faleceu) como director. Visível no espírito e na forma impressa à Colóquio/Letras, assim como na dinâmica concretização, ao longo de oitenta números, do programa inicialmente definido, o trabalho de Jacinto do Prado Coelho é o de um intelectual pautado por normas de grande tolerância mas bem consciente da necessidade da delimitação de fronteiras de uma revista especificamente literária cuja riqueza deriva, por outro lado, do acolhimento de uma pluralidade de pontos de vista teóricos, do contributo de outras disciplinas, da multiplicidade dos géneros (ensaio, crítica, cartas, comentários, peças criativas de ficção e poesia, documentos), da cobertura das literaturas de língua portuguesa (nelas incluindo a galega), e do lugar concedido a literaturas estrangeiras, em particular românicas e germânicas. A sua inserção no mundo universitário, a pertença a instituições, nacionais e estrangeiras, relacionadas com o mundo literário, a rede de contactos estabelecidos no grande trabalho colectivo que foi a edição do Dicionário de Literatura permitiram a Prado Coelho angariar um vastíssimo corpo de colaboradores para a revista, académicos de todas as universidades portuguesas, professores portugueses em universidades estrangeiras, lusófilos, críticos e escritores de outras nacionalidades — e é de realçar o contributo brasileiro, tanto em termos de crítica quanto de criação —, para além de autores e jornalistas portugueses. Tudo isso, a que se deve juntar uma muita bem estudada e extensa rede de distribuição em Portugal e no estrangeiro, muitas vezes a título de oferta, contribuiu para tornar a revista num local de encontro e de diálogo sobre literatura a nível nacional e internacional.

A colaboração escrita de Jacinto do Prado Coelho nas duas revistas tem naturalmente sobretudo a ver com autores e temas em que se especializou: assim, na primeira Colóquio, aborda, em artigos, António Ferreira e Camões (n.º 9), Matias Aires (n.º 17) e Fernando Pessoa (n.º 67); na Colóquio/Letras, Camilo (n.º 1), Fernando Pessoa (n.º 8, 20, 26), Alexandre Herculano (n.º 41), a definição de "literário" (n.º 80); publica também notas de homenagem a José Osório de Oliveira (n.º 22), Hernâni Cidade (n.º 23, 24), Armindo Rodrigues (n.º 27), Ruben A. (n.º 29), Vitorino Nemésio (n.º 42), Jaime de Magalhães Lima (n.º 46), Odylo Costa Filho (n.º 51), José Gomes Ferreira (n.º 53), Camões (n.º 55), António Ramos Rosa (n.º 60), Duarte Faria (n.º 70). Assina numerosas críticas a livros, tanto na secção de "Recensões" como na de "Livros sobre a Mesa", debruçando-se sobretudo sobre livros de ensaio estudando autores do século XIX (Garrett, Herculano, Camilo, Eça, Luís de Magalhães, Cesário) e do século XX (Pessoa e Pascoaes), bem como obras de teoria da literatura. Em "Livros sobre a Mesa" dedicará particular atenção à colecção didáctica dirigida por Maria Alzira Seixo e em que colaboram inúmeros discípulos seus. Estes estarão bem presentes na Homenagem que lhe é prestada no n.º 80, a par de escritores e professores portugueses e brasileiros.

Obra: A Poesia Ultra-Romântica (introd., sel. e notas, 1944), A Educação do Sentimento Poético (1944), Fialho de Almeida (introd., sel. e notas, 1944), A Poesia de Teixeira de Pascoaes (ensaio e antologia, 1945), Introdução ao Estudo da Novela Camiliana (1946), Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa (1949), Garrett Prosador (1955), O Vocabulário e a Frase de Matias Aires (1955), Subsídios para o Estudo de João Xavier de Matos (1957), Situação de Fialho na Literatura Portuguesa (1959), A Musa Negra de Pina e Melo e as Origens do Pré-Romantismo Português (1959), Dicionário das Literaturas Portuguesa, Galega e Brasileira (direcção, 1960), Camilo Castelo Branco, Obra Selecta (ensaio, antologia e notas, 1960), Poetas Pré-Românticos (pref., sel. e notas, 1961), Contos de Camilo Castelo Branco (sel., pref. e notas, 1961), Poetas do Romantismo, 2 vols. (sel., introd. e notas, 1965), Teixeira de Pascoaes, Obras Completas, 11 vols. (introd., org. e aparato crítico, [1965-1975]), Camilo Castelo Branco, Obras, 62 vols. (direc., e algumas "notas preliminares", 1965- 1979), Fernando Pessoa, Quadras ao Gosto Popular (com Georg Rudolf Lind, introd. e fixação do texto, 1965), Fernando Pessoa, Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação (com Georg Rudolf Lind, introd. e fixação do texto, 1966), Fernando Pessoa, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias (com Georg Rudolf Lind, introd. e fixação do texto [1967]), A Letra e o Leitor (1969), A Literatura Expressão de Uma Cultura Nacional (1969), Almeida Garrett, Teatro, 4 vols. (introd., 1971-1973), Ao contrário de Penélope (1976), Originalidade da Literatura Portuguesa (1977), Matias Aires, Reflexões sobre a Vaidade dos Homens (com Violeta Crespo Figueiredo, 1980), Problemática da Leitura — Aspectos Sociológicos e Pedagógicos (com AA. VV., 1980), Fernando Pessoa, Livro do Desassossego por Bernardo Soares, 2 vols. (pref. e org., recolha e transcrição dos textos: Maria Aliete Galhoz, Teresa Sobral Cunha, 1982), Camões e Pessoa, Poetas da Utopia (1983).


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