|
Director gráfico da Colóquio, Revista de Artes e Letras: 1959-1962
Nasceu em Silves, no Algarve, no seio de uma família de proprietários rurais. Fez os estudos liceais em Faro e veio para Lisboa em 1918, onde frequentou a Faculdade de Letras que abandonou três anos depois para se dedicar à pintura. Na Faculdade conheceu a sua futura mulher, Ofélia Pereira da Cruz (1902-1952), também ela pintora. Como muitos artistas da sua geração, foi autodidacta, tendo exposto os seus desenhos pela primeira vez no III (e último) Salão dos Humoristas, no Teatro S. Carlos, em 1920, ao lado de Almada Negreiros, Jorge Barradas, Christiano Cruz, António Soares, Stuart de Carvalhais, José Pacheko, Leal da Câmara, entre outros. Em 1924, com Pacheko, Viana, Stuart, Almada, Barradas e Soares, recebeu a primeira encomenda: a decoração do café A Brasileira do Chiado. O seu trabalho consistiu num friso decorativo que foi exposto, tal como as restantes telas, no I Salão de Outono na Sociedade Nacional de Belas-Artes em 1925.
Nos anos 20 produziu milhares de trabalhos como ilustrador e artista gráfico, em revistas e jornais: ABC, ABC a Rir, Ilustração Portuguesa, Sempre Fixe, Europa, Civilização, Imagem (dir. Chianca de Garcia), Kino (dir. António Lopes Ribeiro), O Século, Diário de Notícias — onde publicou, de 1925 a 1929, a crónica ilustrada «Os Domingos de Lisboa».
Em 1929, numa estada em Berlim, tomou contacto com o expressionismo alemão. Dessa experiência darão conta os desenhos e aguarelas expostos no I Salão dos Independentes (SNBA, 1930), retratos satíricos da Lisboa pequeno-burguesa. Participou ainda no II Salão dos Independentes (SNBA, 1931) e no I Salão de Inverno da SNBA (1932).
Na década de 30 fez estudos de artes gráficas em Paris. Com Keil do Amaral, criou os cenários do filme O Trevo de Quatro Folhas (1936) de Chianca de Garcia. Integrou a famosa «équipe de António Ferro» empenhada na «campanha do bom gosto» — ao lado de Fred Kradolfer, Carlos Botelho, Emmerico Nunes, Tomaz de Mello-Tom, Paulo Ferreira e José Rocha — e que foi responsável pela decoração dos Pavilhões Portugueses da Exposição Colonial Internacional de Vincennes (1932), da Exposição Internacional de Paris (1937), de Nova Iorque e de S. Francisco (1939) e do Pavilhão da Colonização da Exposição do Mundo Português (1940).
Em 1941 foi condecorado com o grau de Oficial da Ordem de Sant’Iago da Espada.
Durante a década de 40 trabalhou como ilustrador, capista, publicitário, decorador, cenógrafo e figurinista, colaborando regularmente com as editoras Guimarães, Inquérito, Estúdios Cor, Livros do Brasil, entre outras. Foi director artístico da Editorial Ática (1947) e das revistas Panorama (1941-1949), editada pelo Secretariado de Propaganda Nacional, e Litoral (1944-1945), tendo colaborado também na Atlântico (1942-1945), dirigida por António Ferro. Integrou a I Exposição dos Artistas Ilustradores Modernos, SNI (1941), e o I Salão Nacional de Artes Decorativas, SNI (1949). Criou cenários e figurinos para o grupo de bailado Verde-Gaio e colaborou na decoração dos paquetes Vera Cruz e Santa Maria.
Entre 1949 e 1951, chefiou a equipa de decoradores das Feiras das Indústrias Portuguesas. Representou Portugal na Bienal Bianco e Nero Internacional de Lugano, por indicação do SNI (1952). Em 1954, a convite de Jaime Cortesão, integrou, com um grande painel, a exposição comemorativa do IV Centenário da Fundação da Cidade de São Paulo, no Brasil. Recebeu o Prémio de Desenho da Exposição Iconográfica das Pescas, Instituto Superior Técnico (1955), o de Aguarela e Desenho na I Exposição de Artes Plásticas, Fundação Calouste Gulbenkian (1957), e o Prémio Especial de Pintura na III Exposição de Artes Plásticas, Câmara Municipal de Almada (1958). Em 1961 integrou ainda a II Exposição de Artes Plásticas (FCG) e a V Exposição de Artes Plásticas (CM Almada). Os trabalhos dos últimos dez anos revelam uma abordagem mais poética e romântica da paisagem urbana e rural. Vejam-se por exemplo as ilustrações d’O Livro de Cesário Verde (1956-1962).
De 1959 até ao fim da vida foi director gráfico da Colóquio, Revista de Artes e Letras. V. artigos de Hernâni Cidade e Reynaldo dos Santos (n.º 20), Manuel Mendes (n.ºs 23 e 36), José-Augusto França (n.º 38), Fernando Guedes (n.º 55) e Julián Gállego (n.º 59).
Obras ilustradas (selecção): Luzia, Os Que Se Divertem, 3.ª ed., 1929; George Raeders, La Dernière des Amazones,1932; Luís Moita, O Fado, Canção de Vencidos, 1936; Manuel de Lima, Um Homem de Barbas, 1944; Aquilino Ribeiro, O Malhadinhas, 1946; Eça de Queiroz, Os Maias, 1946; Manuel Mendes, Pedro, 1954; Juan Ramón Jiménez, Platero e Eu, 1955; Luís Teixeira, Lisboa, 1955; Ernest Hemingway, O Velho e o Mar, 1956; Aquilino Ribeiro, Estrada de Santiago, 1956; João Gaspar Simões, História da Poesia Portuguesa, 1955, e História da Poesia Portuguesa do Século Vinte, 1959; O Algarve na Obra de Teixeira-Gomes, 1962; O Livro de Cesário Verde, 1964; David Mourão-Ferreira (sel. e pref.), Saudades de Lisboa: De Eça de Queiroz a Miguel Torga, 1967.
Exposições individuais (póstumas): Bernardo Marques, Obras de 1950 a 1960, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1966; Bernardo Marques, Liceu de Faro, 1968; Bernardo Marques 1898-1962, Sec. de Estado da Informação e Turismo, Lisboa, Palácio Foz / Porto, Museu Soares dos Reis, 1969; Bernardo Marques, Madrid, Museu de Arte Moderna, 1970; Bernardo Marques, Lisboa/Porto, Galeria São Mamede, 1973; Bernardo Marques, Lisboa, Galeria Dinastia, 1973; Bernardo Marques, Palácio de Vila Viçosa, 1975; A Terra e o Mar, Fundação Calouste Gulbenkian, exposição itinerante, 1976-1980; Bernardo Marques, Düsseldorf, Alemanha, 1981; Bernardo Marques: Période 1934-1962, Paris, Centre Culturel Portugais, Fundação Calouste Gulbenkian, 1982; Bernardo Marques: Desenho e Ilustração, Anos 20 e 30, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1982; Bernardo Marques, Porto, Casa de Ramalde/Lisboa, FCG/MC, 1983; Bernardo Marques, Lisboa, Centro de Arte Moderna, Fundação Calouste Gulbenkian, 1989; Bernardo Marques, Macau, Casa Garden, Fundação Oriente, 1991; Sintra e Outros Lugares na Obra de Bernardo Marques, Galeria de Colares, 1995; Bernardo Marques: De Museu, Lisboa, Galeria João Esteves de Oliveira, 2003.
Fonte: Marina Bairrão Ruivo, Bernardo Marques, Lisboa, Editorial Presença, 1993.
Colaboração de Bernardo Marques na Colóquio, Revista de Artes e Letras (e ainda as capas dos números 21 e 55)