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N.º 218, Jan.-Abr. 2025 - Camilo

Por Revista Colóquio/Letras, publicado em 29.1.2025 na secção Notícias

“A verdade é às vezes mais inverosímil que a ficção. O engenho do romancista concatena os sucessos com tanta lógica e coerência que o espírito não pode negar-lhes a naturalidade. As ocorrências advêm tão harmoniosas, os sucessos filiam-se e reproduzem-se tão espontaneamente, que o leitor pode, sem desaire da sua crítica, pensar que o romancista é muitíssimo mais correcto e natural que a natureza. Ora agora, o modo como as coisas reais se passam, os disparates que a gente observa, o desconcerto em que andam a previdência do homem com o resultado fenoménico e sempre ordinário das realidades, isso, meu amigo, é que as torna inverosímeis e inacreditáveis, se você ou eu as contarmos com a simplicidade e nudez de que se elas vestiram aos nossos olhos. Sei eu acontecimentos que relatados, como eu os presenciei, seriam incríveis, e compostos com a mentira da arte seriam as delícias do leitor, que julga só verdadeiro o que é possível ter acontecido. Donde eu concluo que a arte é muito mais verosímil que a natureza, e que os seus romances são inacreditáveis por isso que são verosímeis.”

(Camilo Castelo Branco, “A Carteira de Um Suicida”, Cenas Inocentes da Comédia Humana, 1863)

Comemoramos os 200 anos do nascimento de Camilo Castelo Branco com um conjunto de artigos de especialistas portugueses e brasileiros. Vários dos estudos centram-se na proliferação de paratextos e nos procedimentos metaficcionais nas obras do escritor. Outros destacam a crítica social, o tema da religião, a adaptação cinematográfica ou a crítica da historiografia.

A revista apresenta também correspondência inédita de Afonso Duarte para Carlos de Oliveira e recorda tributos prestados ao poeta da Ereira por Nemésio, Sophia e Herberto. O núcleo inclui artigos de José Carlos Seabra Pereira e Carlos Mendes de Sousa e assinala a amizade do poeta com Varela Pècurto, mestre fotógrafo nascido em 1925, que ilustra este número da Colóquio/Letras.

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