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N.º 211, Set.-Dez. 2022 - Manuel Alegre

Por Revista Colóquio/Letras, publicado em 31.8.2022 na secção Notícias

Há poetas que têm o seu lugar em simultâneo na Literatura e na História. Para dar alguns exemplos, desde o Romantismo — que consagrou essa presença pública do escritor —, basta citar Almeida Garrett, Alexandre Herculano e alguns da Geração de 70 como Antero de Quental e Guerra Junqueiro. Por vezes, a fama do político ofusca a do escritor; e talvez seja esse o caso do poeta que agora celebramos. Desde o seu livro de estreia, Praça da Canção, publicado pela primeira vez em 1965, a poesia de Manuel Alegre representou o desejo de revolta e de liberdade de várias gerações, o qual só se concretizaria em 25 de abril de 1974. A música e a voz de cantores, de que destaco Adriano Correia de Oliveira e Amália Rodrigues, poriam os seus versos ao alcance de todos os portugueses, independentemente das suas convicções ideológicas e políticas. Esta homenagem que a revista presta a Manuel Alegre, na sequência de outros números dedicados a escritores vivos, procura estudar os múltiplos aspetos de uma obra que, apesar da importância desse lado militante, não deve esconder a complexidade da sua linguagem poética ou a sua atividade como prosador, que também mereceria um amplo estudo, embora nos artigos aqui publicados se trate sobretudo do poeta.

E se uma linhagem se pode encontrar, também pelo tema e pela experiência do exílio, ela remonta a Luís de Camões, a quem Rita Marnoto dedica um trabalho que procura resolver o enigma da primeira edição de Os Lusíadas, e dos exemplares legítimos ou contrafactuais, através de uma análise comparativa dos que chegaram até nós.

Destacamos ainda os «encontros entre Rui Cacho e Ruy Belo», a homenagem de Guilherme d’Oliveira Martins a António Osório, recentemente desaparecido, e lamentamos a perda de João Rui de Sousa, a cuja obra regressaremos num próximo número.

No princípio do mês de agosto foi Ana Luísa Amaral que partiu. Far-nos-á falta a sua presença feita de inquietação e de paixão, a voz que dizia na perfeição cada verso e cada palavra, com a música plena que nunca fazia esquecer um sentido que juntava imagens e pensamento, e sobretudo a pessoa que vivia plenamente a poesia, para lá das suas circunstâncias. Do seu último livro, Mundo, nos fala aqui Rosa Maria Martelo. Também a Ana Luísa regressaremos com a homenagem que lhe é devida, pondo o acento sobre a vida que ela tanto amava e soube imprimir em cada um dos seus poemas.


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